sábado, 3 de março de 2018

The Legend of Zelda: Breath of the Wild - Análise



Apesar de seu grande número de títulos, e de fazer parte de uma franquia sempre em expansão e de grande qualidade, poucos são os jogos de Zelda que conseguem realizar grandes marcos de maneira ativamente grandiosa.
O primeiro Zelda, seguido de A Link to the Past, Ocarina of Time e Twilight Princess são, em tese, os principais títulos que conseguiram alcançar tal status, e por motivos respectivamente distintos. O último jogo da série a ser lançado, Breath of the Wild, se une a todos eles, também por um motivo bem particular.

Antes de começarmos, até porque eu sei que muitos irão pular boa parte da análise para ir direto ao veredito, vou apenas dizer o seguinte: The Legend of Zelda: Breath of the Wild é um dos melhores jogos da franquia até hoje, potencialmente sendo superior a muitos outros títulos mais famosos, não exatamente pelo que ele faz de diferente, mas, pelo que ele faz de certo.
Se você ainda não sabe se deve pegar o jogo, mesmo já tendo passado todo esse tempo, e, se você tem os recursos para isso, minha recomendação é que você compre e aproveite.

Eu também gostaria de dizer que deixei a análise sem spoilers, não exatamente para preservá-lo em mistério para quem ainda não jogou, mas, porque, se fôssemos entrar em detalhes até nessas partes, honestamente, essa seria uma análise muito longa e muito cansativa.
Enfim, vamos começar.



Liberdade sem fronteiras

Vamos começar com o que é um dos pontos mais importantes do jogo. Este é o primeiro Zelda em mundo aberto desde o original, lá de 1986, e, como que respondendo às diversas críticas do grande título que veio antes, Skyward Sword, o mundo em Breath of the Wild está praticamente aberto desde o começo.
Francamente, a liberdade dada a você logo de cara não é apenas grande, como é também de tirar o fôlego. Praticamente tudo o que seus olhos veem pode ser acessado e explorado.

Para garantir que se possa fazer tal exploração ininterrupta, o jogo lhe dá, muito cedo, todas as ferramentas que você irá precisar (e das quais falaremos em um instante).

Na verdade, o jogo é tão aberto que se pode encontrar inúmeras maneiras de fazer diversas atividades; o que já se foi descoberto em termos de viajar grandes distâncias e enfrentar diferentes inimigos é ao mesmo tempo ridículo, hilário e inacreditável.

Para melhor se adequar a essa liberdade, a nova versão do reino de Hyrule é, provavelmente, o maior mundo que já se manifestou na série e, diferente de jogos anteriores, não é nem um pouco vazio. Cada pequena parte do reino contém diferentes detalhes, alguns pequenos, outros grandes, de forma que quase todos os lugares que você vai visitar deixarão sua marca de algum jeito.

Esse é o grande trunfo de Breath of the Wild: o mundo pelo qual você percorre até parece vivo, com muito para se ver e conhecer: cada lugar tem sua própria flora, uma fauna surpreendentemente diversa, e construções específicas que praticamente contam diferentes histórias, algumas felizes, muitas trágicas. Você viajará por grandes florestas, montanhas congeladas, um grande deserto e a sempre empolgante Death Mountain, tendo, inclusive, de lidar com cada tipo de clima também.
 Descobrir cada pequeno detalhe do mundo é incrivelmente enriquecedor e sempre divertido.



Vale ressaltar, inclusive, que, mesmo depois de já ter explorado quase todo o mapa, nunca é um problema revisitar um lugar por seja lá qual motivo, visto que tudo parece continuar tão fresco e novo como antes. A nova Hyrule é mais uma viagem de férias do que um playground virtual, e esse ponto é muito importante para a imersão do jogo (que é surpreendentemente fácil de atingir).

Obviamente, Hyrule não se resume a ruínas e florestas, apenas. Espalhadas pelo grande mundo estão pequenas vilas e cidades todas referentes às principais raças de fantasia da série. Por conta disso, cada cidade parece única e tem seu próprio estilo; a vila japonesa dos ninjas Sheikah, a cidade desértica das Gerudo (que retornam aos holofotes de maneira grandiosa depois de muito tempo deixadas de lado), a cidade no lago dos Zoras, a já icônica cidade dos Gorons e a vila suspendida dos Rito, sem contar com algumas outras cidades menores envolvendo Hylians e uma pequena mistura das raças.
Além desses lugares, é possível ver diferentes pessoas andando a esmo pelo campo e, apesar de cada encontro não ser exatamente randômico, a presença de outros aventureiros e viajantes (os quais podem até entrar em confronto com as criaturas mais hostis - e que podem ser ajudados em troca de uma pequena recompensa) dá mais vida ao mundo, que já é bem animado do jeito que está.


Em resumo a isso tudo, o novo mundo de Breath of the Wild é, sem sombra de dúvidas, o melhor e mais empolgante de toda a série Zelda até hoje, não só por ser visualmente distinto quando precisa, mas, também, por trazer diferentes tipos de encontros e coisas a se descobrir.

Para enfrentar de cara esse novo mundo, você terá acesso a uma série de ferramentas importantíssimas: algumas serão dadas a você, enquanto as outras precisarão ser encontradas dentro de ruínas ou das múltiplas shrines, espalhadas pelo mundo.

Dentre essas ferramentas, você terá as Runas, que substituem os itens tradicionais de Zelda, que podem, paralisar diferentes itens por um determinado tempo (ou inimigos, depois de certas atualizações), mover grandes itens metálicos, causar explosões, criar blocos de gelo na água, e até tirar fotos.
Tais runas são os "aplicativos" de um item chamado o Sheikah Slate, que lhe é entregue bem no começo, e que é de grande importância não apenas para questões de jogo, como também para a trama. Ela será o seu mapa, e servirá para ativar as Shrines de que falei antes.

Essas "shrines" são, basicamente, calabouços em miniatura, que, quando acessadas, contém um quebra-cabeça, ou um combate, como ponto central.
Os quebra-cabeças que você terá de resolver, vale mencionar, não são tão empolgantes quanto em jogos anteriores, muitos deles se focando mais em questões físicas (como gravidade, ou impulso, por exemplo), e se utilizarão das Runas com relativa criatividade.
Devido à versatilidade das Runas, no entanto, haverá diferentes maneiras de resolver cada quebra-cabeça, e, assim como o resto do jogo, a liberdade dada aqui é certamente apreciada.
Já os combates são outra história. Em algumas Shrines, você será requisitado a enfrentar um inimigo para prosseguir. Esses inimigos estão dentre os encontros mais difíceis de toda a série, e requerem sua habilidade máxima para que sejam derrotados; esse ponto de dificuldade (que é presente no jogo todo, na verdade) não só é bem-vindo, como também incentiva você a continuar indo em frente até que possa ultrapassar seus próprios limites e aprender com o jogo a se tornar um jogador melhor.

Completados os desafios, uma esfera é entregue como recompensa, e quatro delas podem ser usadas para ampliar o seu número de corações (leia-se, a sua vida, como em jogos anteriores) ou até mesmo a barra de energia, que retorna de Skyward Sword (e que é um tanto mais importante aqui).

O novo Link é surpreendentemente versátil, não apenas herdando uma capacidade de corrida de Skyward Sword, como também sendo capaz de subir praticamente todas as paredes que aparecem em Hyrule, de uma maneira surpreendente e, até certo ponto, cômica. Ele também pode carregar seus ataques, para deixá-los ainda mais efetivos, bem mais vezes do que os Heróis de jogos anteriores.
Cada atividade dessas, como é de se esperar, consome sua barra de energia e, se você não for cuidadoso, acabará ficando cansado e vulnerável a praticamente tudo o que estiver ao seu redor.

Isso nos leva a um outro ponto, essa nova Hyrule é consideravelmente hostil e muito perigosa. Até mesmo o menor dos inimigos pode pegar você de surpresa e terminar o seu jogo prematuramente, o que incentiva atenção e sigilo quando explorando, especialmente se você estiver em um lugar novo.
E, para completar, não são apenas inimigos comuns que vagam por Hyrule. Mini-chefes extremamente perigosos podem ser encontrados nos mais diversos lugares, e, assim como os inimigos menores, podem até pegar você de surpresa. Isso vai, em especial, aos Guardiões, máquinas antigas que não são apenas difíceis de derrubar (assumindo que você ainda esteja começando) como também podem ser bem difíceis de despistar.
Tudo isso faz com que esse seja um dos Zeldas mais difíceis de todos os tempos, e, por mais que isso possa parecer algo um tanto ruim, vale mencionar que a dificuldade do jogo é apenas relativa à habilidade de cada jogador. O mundo será hostil e difícil de enfrentar no começo, mas, à medida em que você vai jogando, aprimorando suas habilidades, e lentamente compreendendo as mecânicas do jogo, nem mesmo o mais difícil dos mini-chefes será uma grande dor de cabeça. É um bom caso de um jogo deixando seu jogador melhor preparado para a jornada.



Certamente, não seria muito divertido, se não fosse a personalidade que praticamente todos os inimigos têm. Apesar de ser algo mais comum com os inimigos menores, não é nada incomum encontrá-los juntos, praticando pequenos ritos diários, e reagindo ao mundo: dormindo durante a noite, atacando animais selvagens para conseguir comida, e tudo mais. A inteligência artificial deles é consideravelmente intrigante, com cada monstro tendo um próprio comportamento, de acordo com suas condições. Existem muitos detalhes a se ver nisso tudo, e já foram feitos até vídeos explorando tudo isso.
O combate do jogo também merece atenção, já que, apesar de não ser lá muito sofisticado, ele consegue ser profundo e intuitivo o suficiente para ser divertido.

Uma das coisas que irá ajudar você na hora do combate contra esses monstros são as novas roupas que Link pode usar. Diferente de virtualmente todos os jogos que vieram antes, Breath of the Wild não dá acesso imediato à clássica roupa verde. Na verdade, você terá uma grande seleção de roupas a seu dispor, que podem ser compradas ou encontradas dentro de diferentes Shrines. Cada roupa tem diferentes atributos, tais como resistência ao frio ou calor, eletricidade, melhor capacidade de sigilo, dentre outras; esses atributos podem ser aumentados se a roupa estiver equipada no seu próprio set. As roupas também contam com diferentes capacidades defensivas, permitindo que Link aguente melhor o dano que ele vai levar inevitavelmente.

Somando às roupas, também estão os diferentes tipos de armas a seu dispor. Espadas, lanças, espadas gigantes/martelos e arcos poderão ser encontrados em praticamente todos os lugares, seja abandonados no chão, sendo tirados de inimigos, ou até mesmo comprados, em alguns casos. Cada tipo de arma também tem seus próprios atributos e estilo de jogo, mas, todas elas são ainda bem confortáveis de usar.
Elas também interagem de diferentes maneiras com o mundo ao redor, podendo cortar árvores (no caso de espadas e machados), queimar e/ou congelar inimigos (no caso de armas elementais ou das flechas especiais de fogo ou gelo - que, junto das Flechas-Bomba e de um novo tipo, as Flechas Antigas, não são mais itens de calabouço), ou quebrar minérios.
Devido ao grande número de armas que podem ser encontradas, e ao fato de elas serem bastante fáceis de encontrar, não espere que cada arma dure muito tempo, no entanto. Depois de serem usadas vezes o suficiente, as armas logo começarão a quebrar e, caso isso aconteça, você precisará se preparar para puxar outra que você possa ter consigo.
Por sorte, os controles do jogo são fluídos o suficiente para permitir trocas rápidas de armas e escudos (que, como é de se esperar, estão bem presentes aqui), além de dar acesso de maneira rápida ao seu inventário, onde você pode gerenciar suas roupas e os diversos itens que você irá coletar durante a viagem.

Para ainda mais opções, também é possível cozinhar diferentes frutas e animais que você encontra espalhados pelo mundo (aqui entrando a caça a animais selvagens, por exemplo) para criar pratos bem diversos e, honestamente, bem efetivos.

O custo da liberdade

Existe mais que pode ser dito em relação a Breath of the Wild para se dar elogios; no entanto, precisamos seguir em frente, para tomar nota dos outros elementos que o jogo faz e, curiosamente, há alguns pontos que fizeram falta, ou deixaram a desejar como um todo.
Vou apenas ressaltar que muito do que vem a seguir vem mais de uma opinião pessoal do que problemas do jogo  em si. Como eu disse antes, Breath of the Wild é mais do que digno do seu tempo e dinheiro, e é uma jornada simplesmente inacreditável do começo ao eventual fim (que, de novo, pode demorar eras, justamente por conta do quão aberto o jogo é).

Apesar de todos os elogios que a abertura do mundo recebe (e de maneira merecida, vale lembrar), alguns outros pontos acabaram sofrendo um tanto por causa disso.
Mais precisamente a variedade de inimigos e a nova trama. Vamos começar com o primeiro.

Esse é um ponto que, infelizmente, parece ser muito comum em vários jogos da Nintendo, como Xenoblade Chronicles X e Metroid: Samus Returns. Os inimigos de Breath of the Wild, apesar de possuírem muita personalidade, infelizmente não variam muito além daquilo que você verá nas primeiras horas. Enquanto há versões diferentes de cada inimigo, cada uma mais forte e resistente do que a outra, as espécies que andam pela nova Hyrule são sempre as mesmas em cada região, com apenas algumas pequenas mudanças.
A falta de variedade não será o suficiente para deixar você cansado de ver algum inimigo de novo, mas, trata-se de uma oportunidade perdida, infelizmente...

Agora, um dos pontos mais promissores de Breath of the Wild é justamente a sua história. Diferente de vários dos jogos que vieram antes, nota-se neste jogo um foco maior em explorar temas mais complexos do que apenas "salvar a princesa". Não se deixe enganar, esse tipo de trama continua aqui, mas, há um esforço consideravelmente maior em apontar como o mundo reage diante de problemas tão grandes.
Um foco especial, na verdade, vai para a própria princesa Zelda, que tem uma personalidade bem interessante (e diferente da norma pré-estabelecida), além de contar com um arco muito bom.
Os demais personagens maiores também são dignos de destaque, justamente pelo que é visto de suas personalidades, e um pouco de suas características (embora eles não tenham o mesmo tempo de tela que Zelda tem).
Ganon, um vilão tão constante, é praticamente tratado como um desastre natural durante boa parte da história, os momentos finais sendo quando ele passa a ser algo mais próximo do que foi visto antes.


Apesar dos temas mais complexos, a história em si continua tão simples como sempre foi. Na verdade, uma parte a mais dela também só pode ser acessada de maneira opcional, e, além de pontos chaves que ocorrerão durante seu progresso, é justamente uma parte bem importante para contexto.
Aliás, isso não deveria ser visto muito como um problema, visto que praticamente todo o jogo é opcional, sendo apenas o confronto final com o agora chamado Calamity Ganon sua grande obrigação.

Mesmo assim, a história em Breath of the Wild tinha grande potencial, e é uma pena que, apesar do esforço já feito, não se tenha tentado ir mais longe para entregar uma trama melhor desenvolvida em todos os aspectos... Bom, para isso sempre se tem o próximo jogo.

Um outro ponto que pode deixar a desejar (mas, que não confirmo abertamente justamente por ser uma parte tão subjetiva) é a trilha sonora. Diferente das músicas melódicas e constantes de jogos anteriores, é apenas uma breve trilha de piano que você vai ouvir aqui e ali durante sua jornada, a parte mais intensa (e maravilhosa) da trilha sonora tocando em pontos chaves, como cidades, dentro de algumas Shrines, ou de lugares mais importantes.
Há pouco para se ouvir comparado com o que houve antes, mas, não há desânimo, porque o que há aqui para se ouvir é bom e memorável.

DLC e amiibo

Breath of the Wild é também o primeiro jogo principal de Zelda a adicionar conteúdo pago extra. Por sorte, esse conteúdo tem muita substância, e certamente dará ainda mais valor a sua jornada, adicionando novos eventos, várias roupas extras, referentes a jogos anteriores, e levando você a partes bem desafiadoras e empolgantes.



O jogo também se utiliza dos amiibo para destrancar algumas coisas menores, como trajes de outros Heróis e alguns itens a mais. Justamente por amiibo não serem exatamente fáceis de se adquirir (ainda mais considerando o preço que eles costumam ter em lojas online), deixarei claro que nada dos amiibo é essencial, apesar de serem referências divertidas a jogos passados (uma em especial já sendo bem conhecida, e bem divertida).

 

O veredito 

Há muito o que se falar sobre Breath of the Wild ainda... Poderíamos discutir sobre o quão belo o jogo é, como os combates contra os mini-chefes, e até mesmo os chefes, costumam ser intensos e empolgantes, além de vários outros detalhes, mas, o tempo é curto, e esta análise já correu mais do que o suficiente.

Breath of the Wild é um dos melhores jogos dos últimos anos, justamente por permitir que seu jogador tenha o dizer final naquilo que faz, e por garantir que essa liberdade ocorra até o final da partida. Sim, há alguns tropeços pequenos no caminho, mas, nenhum deles é capaz de derrubar a qualidade como um todo do jogo inteiro.
Apesar de ser muito diferente da fórmula que Zelda vem seguindo praticamente desde A Link to the Past e Ocarina of Time, esse é um muitíssimo precisado novo fôlego e, sabendo que jogos futuros seguirão esse estilo, só nos resta olhar esperançosos para o futuro.


4/4

A versão analisada para esta postagem foi a de Wii U.

Nenhum comentário:

Postar um comentário