quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Desenvolvendo temas - Pós-apocalipse em Zelda

Olha, os fãs de Zelda são um tipo interessante de lidar, e são completamente avessos a muitas mudanças que podem ocorrer com a série. Ideias de jogos em steampunk, tempos modernos ou até mesmo futuristas são abominadas por muitos de nós; e, até certo ponto, isso é justificável. Uma aura “mágica” pode muito bem passar a ser vista como “tecnológica” se nós fizermos alterações no período de uma história. Não sei se é por ironia, ou por acaso que os rumores que mais chamam atenção, e acabam sendo os mais polêmicos, geralmente querem mudar o período histórico do jogo e coloca-lo em premissas completamente diferentes das quais nós estamos acostumados.
Dos rumores que nós temos nessa imensa gaveta de “rumores que assustaram quase todo mundo”, um deles, que surgiu em 2007, conseguiu chamar a nossa atenção e, por motivos mais do que óbvios, veio parar nessa coluna. Nós estamos ainda no período pré-Skyward Sword, ainda quando Twilight Princess era novidade. Phantom Hourglass chegaria ainda naquele ano, e tudo ficaria lindo. Foi então, que, naquele fatídico primeiro de abril (que é temido por todos os fãs do entretenimento), um certo site de videogames liberou um vídeo muito do estranho falando sobre as primeiras novidades do primeiro Zelda para Wii.

Mais uma vez, me vejo obrigado a agradecer ao site Zelda Universe e aos autores de sua coluna “25 years in 25 days”, por terem me levado a descobrir esse vídeo e seu conteúdo. O rumor da vez não apresentava algo realmente “original”, e nem falava sobre possibilidades steampunk, ou algo sobre um protagonista pirado nem nada disso. Na verdade, o tema é relativamente clichê até. Caso você esteja curioso, assista o vídeo logo abaixo:

   

Eu originalmente escrevi esse texto para ser uma das edições do “Melhores rumores de Zelda”, talvez vocês ainda encontrem algumas relíquias disso aqui, mas, depois de rever o vídeo acima, eu percebi que não tinha nada a ver com o que eu escrevi. Então, pra não jogar uma manhã de trabalho fora, decidi reaproveitar e trazer pra cá. Até porque, esse é um tema interessante pra discussão...

Então, nessa coluna, nós vamos explorar diferentes tipos de temas de narração, fazer uma análise sintética e ver se ditos temas caberiam em Zelda, ou não. Bom, sem mais delongas, comecemos depois da quebra.


O tema é “pós-apocalíptico”. Clichê, hã? Acontece que esse acaba sendo o que nós quase sempre confundimos quando falamos de “futurista” hoje em dia. Mas, antes que alguém apareça condenando essa ideia, dizendo que isso é horrível, um absurdo, e que deveriam prender o idealizador e jogá-lo aos Dodongos... Calma... Vamos analisar isso parte-por-parte.

Primeiro, vejamos bem essa ideia do clichê. Vale à pena reclamar disso? Eu digo que não, e eis o motivo : existem várias histórias por aí, sejam na forma de livros, filmes ou videogames, que se utilizam de ideias já recicladas centenas de vezes. E, o pior de tudo, muitas vezes, não só funciona como consegue nos deixar impressionados, não importa o quão clichê seja. Quer um exemplo? Bom, ao invés de falar coisas como “salvar a princesa de um reino encantado”, nós poderíamos também mencionar, não sei, a ideia do “final feliz”; ou, quem sabe, de quando um herói se mostra derrotado e precisa se reerguer para enfrentar o vilão novamente; talvez quando uma pessoa qualquer descobre que é a única capaz de salvar o mundo, etc.
O que quero dizer é que nada disso importa se nós temos um roteiro bem escrito. Claro que a quebra de paradigmas é importante, e deve ser feita de vez em quando, mas não se devem esquecer os clichês.
Resumindo tudo o que eu disse: a ideia de pós-apocalíptico é muito, muito velha, mas, se for bem executada, funciona.

Agora que tiramos isso do caminho, vamos analisar da seguinte forma: Zelda caberia em um mundo pós-apocalíptico? Bem, depende. Se por pós-apocalíptico, você quer dizer aquelas fantasias do século XX em que o mundo seria um enorme deserto infértil, com a humanidade reduzida a centenas, todo mundo contra todo mundo e coisas do dia-a-dia sendo muito mais valiosas do que são hoje, itens como armas de fogo sendo usadas, processos ditatoriais em cidades, água um recurso praticamente inexistente de tão raro, e um monte de outras politicagens, minha resposta é: não, não caberia bem.
Agora, deixe-me explicar por que... Me responda uma coisa: o que atraiu muitos de nós a Zelda no primeiro lugar? Por mais que alguém fale que “ah, foi a mitologia”, “ah, foi aquela história linda”, “ah, foi porque eu gosto de linhas de tempo que não fazem sentido”, eu sinceramente acho que a razão foi outra, e pode soar um pouco crua: foram as cores bonitas e os cenários.
 No caso de uma obra audiovisual, é importante ter uma direção de arte boa, já disse isso a vocês. E, considerando que muitos de nós começamos a jogar Zelda quando éramos crianças, esses dois pontos são o que nos prendem à série.

Essa ideia já foi pensada em Zelda por fãs da série. Você pode conferir um trabalho artístico inteiro feito com base nesse tema aqui.

A cor é importante porque ela dá vida ao mundo que ela pinta. Um mundo cinza e escuro pode ser visto como desinteressante, não memorável e, no geral, sem graça (isso inclusive é uma artimanha artística que muitos de vocês já devem ter notado em clipes de músicas, desenhos e filmes). As cores são justamente as que pintam os campos variados de Hyrule, e foi esse mundo relativamente grande e perpetuamente diferente que atraiu muitos de nós. Isso é, inclusive, a primeira coisa que nos mostram nos trailers de apresentação dos jogos. Raramente paramos para ver a história do jogo em um trailer, nos é mostrado o mundo em que as coisas acontecem.
A ideia de percorrer florestas, desertos, lagos, até oceanos, nos remete a uma ideia de aventura, de exploração, que são as duas bases mais consolidadas de Zelda, e são o que nos fazem amar a série. Por isso que eu digo que essa direção mais “geral” de um mundo pós-apocalíptico não cairia bem. Haveria mesmo algo memorável? Será que ainda teria a mesma mágica? Eu sei que eu disse que a direção artística é praticamente a base principal de uma produção visual, mas temos que tomar cuidado para não achar que qualquer produção artística cairia bem para Zelda. Na verdade, o mundo que eu detalhei tem mais cara de Metroid, se me perguntar. Ou, nem isso. Aí, depois desse papo todo, você me pergunta:

“Mas, tio Davi! Que versão pós-apocalíptica daria certo em Zelda?”. Primeiro de tudo, não me chame de tio, isso faz eu me sentir velho.

Segundo, lembrem-se que a ideia de... “pós-apocalíptico” (quantas vezes eu já escrevi isso?) não remete apenas a algo que acontece LOGO depois de um apocalipse. Podemos estar falando de algo que ocorre dezenas, centenas ou até milhares de anos. E assim, chegamos à parte bacana desse rumor: ele acabou acertando alguma coisa no final das contas... Esse tema acabou sendo usado no Zelda Wii, de certa forma. Ainda confuso? Permita-me explicar... The Legend of Zelda: Skyward Sword pode ser taxado como um jogo pós-apocalíptico!

A reação de vocês...
OK, agora que eu perdi a atenção de 90% de vocês (que foram ali nos comentários me xingar e/ou dizer que farão/fizeram coisas horríveis com algum familiar meu), vamos dar uma explicadinha básica. Se você jogou Skyward Sword, deve ter notado também, que em determinadas partes do jogo, podemos encontrar várias “ruínas high-tech”, com coisas que, no geral, jamais relacionaríamos a Zelda por serem... tecnológicas demais, mas que, nesse caso, funcionam.
 Temos aqui a ideia de um passado distante, no qual tudo era tecnológico e bem avançado, mas aí rolou guerra e mandaram os humanos para os céus... Literalmente. Essa “guerra” praticamente destruiu o mundo, e pode ser, sim, classificada como apocalipse.

 E, bom, acho que é tudo isso que eu tenho por hoje. Não sei dizer se teria como falar mais disso, mas, bom, deixarei essa pergunta com vocês, caros leitores. Vocês se interessariam por um Zelda pós-apocalíptico? Acham que seria legal? Ou é melhor nem tentar?
 E, em outras perguntas... Gostaram dessa coluna? Seria bacana continuar explorando esse tema? Que outros temas possíveis você acha que Zelda poderia explorar? Não deixem de fazer seus comentários a respeito, e até a próxima!

3 comentários:

  1. Bom, se contarmos que The Wind Waker é um jogo pós-apocalíptico da série, não veria como não poderia funcionar.

    Agora concordo que os fãs são avessos a mudanças. The Wind Waker trás uma das melhores histórias da franquia, e o primeiro da série a trazer uma ligação direta para toda a série ("A link to the past" e "ocarina" não contam porque a guerra do banimento era mal explicada, de forma que poderia ser apenas um fato coincidente entre os dois games, até o Hyrule Historia sair).

    No geral, muito bacana, pessoal!

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    1. O Wind Waker nem tinha passado pela minha cabeça! :O
      Bem observado!

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  2. Eu já havia pensado antes no cenário do Skyward Sword como um mundo pós-apocalíptico. Felizmente mais gente pensou a mesma coisa. E o contexto também serve para Wind Waker.

    Acho que a questão é que este clip é de um Zelda futurista (o que talvez fosse mais difícil de assimilar). Mas no quesito de dizimação de povos, de guerras e batalhas, e mais sobre a mudança brusca no rumo da humanidade, a franquia já abordou o tema nestes jogos.

    E mesmo em universos mais sombrios, já temos Majora's Mask e Twilight Princess, e possivelmente o Zelda U deve seguir estes dois últimos, de acordo com as especulações. Acho que o pânico é desnecessário.

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