segunda-feira, 2 de maio de 2016

Twilight Princess HD - Análise



Se alguém, algum dia, me perguntasse qual foi a coisa que mais me encheu de ansiedade, minha resposta seria, sem nenhum momento de hesitação, The Legend of Zelda: Twilight Princess.
Ainda me lembro muito bem de como tudo aconteceu, doze anos atrás… Eu, um moleque de onze anos, que ainda não sabia bem o que iria fazer da vida, e não me preocupava muito com o mundo ao meu redor, tinha acabado de começar a jogar Zelda pelo GameCube que tinha na casa do meu pai. A música, os gráficos, e a suposta liberdade que me foram impostas eram tão surreais e maravilhosas, na época, que eu me sentia em ecstasy só de estar com o controle na mão. Eu já sabia da existência de todos os Zeldas até o Wind Waker, na época, devido a um pequeno vídeo de retrospectiva presente no disco da Collector’s Edition, a única coletânea de Zelda lançada até hoje. Até os jogos de CD-i já estavam em meu conhecimento, embora eu não soubesse qual era a opinião pública ou nem mesmo como eles eram de fato. Mais ou menos nessa época, também, eu ouvi falar de um tal Zelda GC 2, que seria o segundo jogo da série a ser lançado para o GameCube; no entanto, o que eu vi foram alguns screenshots escuros e misteriosos que, apesar de impressionantes, não seguraram minha atenção por muito tempo.
Numa das muitas noites de sexta-feira, quando eu e meu irmão íamos para a casa de nosso pai para passar o fim de semana, comigo ainda fascinado com a grande “novidade” que era a Internet e o que você podia ler e fazer nela, eu me achei visitando o site UOL Jogos, e, por conta da curiosidade, acabei indo ler sobre o catálogo de jogos já lançados (e anunciados) para o GameCube. Foi aí, que meus olhos se depararam com um novo e misterioso título: The Legend of Zelda: Twilight Princess. Intrigado com aquele nome novo, de uma série que eu ainda estava conhecendo, mas que já gostava bastante, eu decidi clicar no link e ver do que se tratava. As imagens não me interessavam, então, eu decidi ir direto para os vídeos. E o que eu encontrei me marcou... Talvez para o resto da minha vida.

Trailers fantásticos, visuais deslumbrantes, acompanhados de uma trilha sonora de, realmente, arrepiar, foram o grande tesouro dentro daquele baú de sexta-feira. Acho que nunca fiquei tão impressionado e maravilhado com algo em toda a minha vida. Era tão lindo, parecia tão maravilhoso, e foi uma das primeiras vezes em que encontrei algo que podia realmente ser definido pela palavra “épico”. Eu havia sido fisgado pela primeira vez por algo que conhecemos hoje, na mídia de entretenimento, como “Hype”, e fui fisgado de uma maneira intensa e maravilhosa.

Nas semanas que seguiram, não pensava em outra coisa. Era Twilight Princess pra lá, Twilight Princess pra cá. Não me surpreenderia se algum dos meus amigos lembrasse da época e me chamasse de "insuportável". Mas, era essa a verdade. Eu estava completamente consumido pelo chamado "hype", tão desesperado para ver mais...
Cada imagem que eu via, daquele momento em diante, era uma grande descoberta. O que seria aquela estátua de areia? Como se faria para chegar naquela nova área? Será que daria mesmo para montar em um búfalo gigante?! Foram minhas primeiras especulações.
A ansiedade chegou a pontos quase que incontroláveis quando vi o trailer da E3 2005 pela primeira vez; assisti àquele trailer tantas vezes que não seria capaz de dizer a quantidade exata. 
Cheguei a sonhar duas vezes que jogava o jogo, e cada vídeo que eu via, eu revia. E quando descobri o nome da "Don't want you no more", não ouvia, e nem queria ouvir, outra música que não fosse aquela.


Fiquei tão apaixonado que me lembro de ter feito um arquivo gigantesco no Word, colocando imagens, links para vídeos, e escrevendo minhas impressões sobre cada pequena novidade que aparecia. Foi esse o precursor do blog que vocês estão lendo agora.

Não parava de pensar em Twilight Princess, e aquilo era, ao mesmo tempo, tão maravilhoso e delicioso, quanto era agonizante. Eu QUERIA Twilight Princess, eu PRECISAVA. Mas, não havia como pegar. Aquela era a época em que jogos originais eram um absurdo de tão caros, mais ou menos do jeito que está nos dias de hoje, na verdade. 
Era tão belo, tão maravilhoso, mas era, certa e absolutamente, inalcançável.

O jogo lançou, e, apesar de eu ter parado para assistir as primeiras horas de jogo, com religiosidade, devo admitir, nunca consegui por minhas mãos nele de fato... Passaram os anos, e eu sabia dos principais eventos, sabia quem era Midna, ouvi falar de um tal de Zant, e o Ganondorf ser chefão final não era mais novidade em 2008. 

Mesmo assim, eu ouvia falar coisas aqui e ali. Lia a respeito, embora evitasse quaisquer coisas ao máximo, mesmo depois de ter fundado o Hyrule Map em 2009. Coloquei até os três trailers do jogo no meu MP4, que só fui ganhar em meados de 2008.

Minha ansiedade, construída ao longo de seis longos anos, já com sua chama quase extinta, só foi saciada em julho de 2010, quando eu tinha ganhado o Wii como presente de aniversário (o último console que eu ganharia). O primeiro jogo que eu peguei foi Twilight Princess... E o que eu ganhei... Foi bem diferente do que eu imaginava, no geral. Diferente, mas, não ruim.

Todos esses eventos voltaram a mim depois que eu terminei Twilight Princess HD pela primeira vez, há algumas semanas, e me coloquei para rever os trailers daqueles anos. Eu mentiria se dissesse que algumas lágrimas de saudade não fugiram de meus olhos...
Eu contei toda essa história a vocês para dar uma ideia de qual é minha relação com esse jogo, o que foi a expectativa, e como eu tive de lidar com ela por seis anos. 

Mesmo com um hype tão persistente, ainda consegui ter uma experiência maravilhosa com Twilight Princess no Wii. De fato, os visuais não impressionavam mais, mas ainda era um jogo belo, grandioso, e com um senso de reverência dificílimo de bater. Pouco depois de terminá-lo pela primeira vez, eu havia postado minha primeira análise do jogo aqui no Hyrule Map, ainda em 2010. Mas, não vou negar, muito do meu amor pelo título sumiu nos anos que se seguiram, talvez por eu ter jogado-o em doses nada saudáveis, que me fizeram enjoar, ou por conta do surgimento de outros títulos da série, que me retiraram a atenção. 
O caso é tanto que, quando o anúncio de Twilight Princess HD surgiu, não fiquei impressionado, nem maravilhado, quanto havia ficado anos antes. Ironicamente, ele estava quase que tão inalcançável quanto antes: a Nintendo fora do país certamente me deixou em um lugar péssimo para ir atrás de novos títulos, com jogos de Wii U sendo vendidos a quase 300 reais (um valor que paguei em outro título, talvez como "treinamento mental", Bayonetta 2). Mas, ao ver o pacote com o amiibo do Wolf Link, e com o surgimento da informação de que ele seria importante para destrancar conteúdo no jogo, comecei a me preparar para pagar o preço (que, como previ, não seria nada amigável). 

Comprei Twilight Princess HD... Paguei o que tive de pagar, e ele veio com o amiibo do Wolf Link no pacote. E, quando me coloquei para rejogá-lo, depois de, tenho certeza, mais de um ano sem nem tocar na versão de Wii, fiquei surpreso em ver que eu estava maravilhado de novo. Não do mesmo jeito que a primeira vez, é claro, mas, minha atenção estava focada nele, e meu Wii U não mexeu em outra coisa por mais de uma semana. 

Antes de liberar minha nota, vou dizer logo que não me arrependo nada de ter pego Twilight Princess HD. É uma ótima versão de um clássico moderno, e que supera o original em muitos aspectos, vários deles pequenos, é verdade, mas que, quando somados a um todo, fazem uma diferença impressionante.
Vamos entrar em detalhes a isso agora.


Remaster por fora, versão definitiva por dentro

 



Se você jogou o Twilight Princess original, seja a versão de GameCube ou de Wii, não existem grandes novidades. 
Os calabouços continuam enormes, jogar com o Wolf Link ainda requer um pouco de prática, e os chefes continuam bem simples de derrotar. Em resumo, continua sendo Twilight Princess...
Mas, a verdadeira pergunta é se essa nova versão se destaca das outras de alguma forma. E a resposta é sim. 


Bom uso do dinheiro


Primeiramente, todas as pequenas irritações de Twilight Princess foram removidas, e alguns outros pontos foram repensados para garantir uma experiência mais fluída e interessante.
O primeiro ponto é que, ao pegar rupees azuis ou amarelos na versão original, o jogador era obrigado a passar por uma mensagem de tutorial, toda vez que reiniciasse o jogo, fator que fez muitos jogadores evitarem a coleta de dinheiro, já que ficava irritante muito cedo. 
Além disso, a quantidade de carga máxima da carteira era um problema a longo prazo: não só baús com rupees permaneceriam fechados se o jogador estivesse de carteira cheia, como a carteira ficava cheia muito, mas muito facilmente.

Twilight Princess HD resolve esses problemas de maneira simples: primeiro, ele remove a mensagem de tutorial depois da primeira vez; segundo, ele aumenta a capacidade das carteiras, cujo limite máximo, em uma jogatina simples, leva a 2000 rupees, o dobro da versão original. Existe uma forma de aumentar esse valor ainda mais, mas, veremos isso mais à frente.

Transformações


Apesar de a transformação em lobo do Herói ser um dos pontos mais únicos de Twilight Princess, sua execução inicial, mesmo sendo boa, ainda deixava muito a desejar.
Não só as caças a Insetos da Luz no começo do jogo eram longas, até um pouco tediosas, como a forma de transição entre as formas humana e lupina era desajeitada, ainda mais ao final do jogo, quando se percebia que ela poderia ter sido feita com o acesso de um único botão (ou, pelo menos, 
em forma de item). 

Ambos os problemas foram notados na versão HD, e ambos foram resolvidos, em parte. As seções de caça aos Insetos continuam lá, mas o número de insetos diminuiu bastante, tornando-as bem mais curtas. Em uma nota pessoal, não pude deixar de sentir que eles retiraram alguns dos insetos mais divertidos de se achar, mas, isso é pura opinião.
O segundo problema, o de transição, foi resolvido por meio da utilização do Gamepad, que será explicada em instantes.



Ao invés de parar o jogo para falar com a Midna, pedir para que ela lhe transforme, para só aí, a transformação ocorrer de fato (o que tomava poucos segundos, mas, que se acumulava com o tempo), o jogador pode, simplesmente, tocar em um botão na tela do Gamepad do Wii U para efetuar a mudança, deixando-a praticamente instantânea. Esse único detalhe já deixa o jogo muito mais fluído e aproveitável. 

Novo conteúdo


Assim como os outros remakes dos últimos anos (Ocarina of Time 3D, Wind Waker HD e Majora's Mask 3D), TPHD tenta trazer elementos novos à mesa para que se torne mais atraente para as pessoas que já jogaram sua versão original e precisam de mais do que só texturas atualizadas e definição aumentada para que possam se aventurar novamente.

Deve-se admitir: as tentativas do jogo são... tímidas... Em termos de grandes novidades. Sim, tudo o que foi dito antes é certamente muito, muito bom, mas são apenas novas aproximações feitas com o intuito de consertar pequenos problemas da versão original.
O que o jogo traz de novo, de fato, é interessante, mas, pode não ser um grande incentivo para o mais exigente dos jogadores, no final das contas.



O primeiro elemento é a Poe Lantern, item que permite ao jogador saber se existe algum Poe (elemento semelhante às Golden Skultullas de Ocarina of Time) naquela área do mapa, brilhando quando há um deles na região, escura quando não existem Poes para serem caçados ali.
Considerando que a caça aos Poes podia ser relativamente problemática e tediosa, o uso da lanterna facilita as coisas, dando ao jogador a ideia de onde ele deve procurar depois que o Sol se põe.
Ao mesmo tempo, agora é possível saber quantos Poes existem em cada área, e quantos ainda faltam para ser pegos, vendo pelo mapa. Isso, somado com a lanterna, deixa a busca muito mais digerível, e até divertida, até certo ponto...

A segunda novidade é o uso de amiibo, certamente para incentivar a coleção dessas figuras tão adoráveis.
Os amiibo lançados juntos de Super Smash Bros., Link/Toon Link, Zelda/Sheik e Ganondorf, todos têm diferentes funções dentro do jogo. Os Link's reabastecem sua munição de flechas, Zelda e sua versão ninja reabastecem corações, e Ganondorf, mantendo o status antagônico do personagem, dobra o dano a ser recebido pelo jogador.

Além de Ganondorf, o único amiibo que pode ser usado mais de uma vez na mesma partida é o novo Wolf Link, lançado junto da nova versão.
A função deste lindo bonequinho é levar o jogador a uma nova área, exclusiva da versão HD (e, até o momento em que escrevo esta análise, acessível apenas com o amiibo), chamado de Cave of Shadows.



Semelhante à Cave of Ordeals presente no jogo, os jogadores devem passar por uma série de andares, enfrentando diversos inimigos em cada andar. O truque é que o jogador terá de enfrentar todos eles apenas na forma lupina do Herói. Sem espada, escudo, ou itens como poções e armas, apenas garras e dentes.
A melhor parte é que os inimigos encontrados na Cave of Shadow não se limitam aos monstros de Twilight, como os Shadow Beasts. No pacote, estão inclusos quase todos os outros inimigos presentes no jogo, como Bulblins, Dodongos, Keese, Leevers e todo o resto, que você provavelmente enfrentaria na forma humana em condições mais normais.
Cada inimigo é derrotado com estratégias diferentes, fazendo da Cave of Shadow a parte mais difícil do jogo e, consequentemente, uma das mais interessantes e recompensadoras, também.
O prêmio final, uma maravilhosa bolsa que permite guardar até 9.999 rupees (e a outra maneira de se conseguir ainda mais dinheiro), pode não ser grande coisa, mas é uma lembrança bacana de todo o esforço que foi feito até então.

A última grande novidade foi a adição de Miiverse Stamps, que podem ser encontrados em diferentes baús espalhados pelo jogo. Eles não adicionam muito, a não ser postagens visualmente interessantes no Miiverse, mas, sua quantidade é considerável, e cada um deles é bem divertido de se achar (mais do que apenas rupees, certamente).

Visuais


Apesar de não ver necessidade, creio que é importante citar os visuais atualizados. Praticamente desde o lançamento, as pessoas não pareceram convencidas das mudanças visuais de TPHD, já que o jogo dá preferência a atualização de texturas, e pouco foco na atualização dos modelos, de fato.
Pode parecer um golpe baixo, mas, o jogo está muito, muito bonito.



Os visuais novos deixam Hyrule mais verde, e um pouco mais viva, também, com os modelos em movimento chamando bem mais atenção. O mundo parece mais real, e não serão raros os momentos de apreciação, especialmente em áreas que possuem texturas tanto bonitas  quanto intrigantes.
Algumas cenas de corte também ficaram mais interessantes de se assistir, devido à consistência que uma definição alta permite.

O jogo roda a 30 frames por segundo, embora eu tenha notado algumas quedas de frame quando havia muita coisa acontecendo de uma vez só perto do personagem. No entanto, como minha TV força uma frequência de 60Hz na imagem, não poderia dizer se essas reduções foram o jogo ou a TV... Então, apenas cito o fato, sem dar uma crítica concreta.

Jogabilidade


O último ponto que precisa ser explorado nesta análise, de fato, é a jogabilidade e, neste sentido, o jogo é muito parecido com seu irmão mais velho, The Wind Waker HD. Os itens do jogo (que continuam muitos) ficam organizados no Wii U Gamepad, e, para deixá-los prontos para uso, basta puxá-los com os dedos para os botões utilizáveis.

 
Assim como o novo método de transformação, essa mecânica permite uma experiência mais fluída, sem interrupções para constantes pausas. É um detalhe pequeno, sem dúvidas, mas, tem uma grande contribuição para o ritmo decididamente mais fluído da versão HD.



Também houve a adição de mira pelo giroscópio, deixando-a mais precisa do que uma mira feita pelas alavancas analógicas (embora ainda requeira um pouco de prática, se comparada ao uso do Wii Remote).
O mapa também pode ser acessado pelo Gamepad, embora muitos possam preferir a opção de vê-lo na TV.

Só um adendo. A forma de acesso aos menus é feita agora pelos direcionais, implicando que pode haver certa confusão caso você tenha jogado The Wind Waker HD, ou até mesmo Hyrule Warriors, anteriormente.


Serei honesto, não creio que há muito mais que possa ser dito. TPHD faz um ótimo serviço em trazer de volta um clássico, tornando-o não só mais acessível, como, também, deixando-o mais interessante do que antes. Existem muitas opções, até mesmo ouvir o jogo exclusivamente pelo Gamepad, no caso de se usar fones de ouvido, coisa que só era possível em Off-TV play no The Wind Waker HD.
Mesmo tendo que aturar um preço salgado, me diverti muito com Twilight Princess HD. É uma ótima versão, e que vai agradar até mesmo ao mais purista dos fãs.

No final das contas, continua sendo Twilight Princess, e isso é bom.


Se você tem o jogo original, ou já o jogou antes, aproxime-se desta nova versão com cautela, e veja se as novidades têm o peso necessário para ir atrás. Caso você nunca tenha jogado Twilight Princess antes, eis aqui a sua chance, e, honestamente, creio que não vai se arrepender.

  4/4 

P.S.: Sei que não mencionei o Hero Mode da versão, mas é porque realmente não tive chance de experimentá-lo ainda... Quando o fizer, atualizarei esta postagem com as impressões.

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