sábado, 24 de janeiro de 2015

Desenvolvimento de personagens - De ama a Samurai-Ninja, a evolução de Impa

Muitos elementos da série Zelda se mantiveram consistentes com o passar dos anos. Ganon(dorf) continuou um babaca, Link é sempre o herói, a Triforce tem poderes divinos (embora estes se alterem de vez em quando) e coisas assim. Em outras palavras, você não acharia muitos elementos "estranhos" se pulasse de uma geração para outra dentro da série.

Mesmo dentro de toda essa tradição, existe uma personagem que mudou bastante, e não estou me referindo à Zelda (que já passou de princesa, pirata e ninja). A mudança mais gritante da série vai, de longe, para Impa, a eterna serva e ama da Princesa Zelda.

Se você conhece bem a história da série, deve ter percebido que Impa teve uma carreira bem... variada... Vamos aproveitar esse artigo para recapitular o papel dela dentro da franquia, vendo suas habilidades e suas características físicas. Acho que também podemos tentar responder a pergunta: Será que é bom mudar constantemente uma personagem assim?

Você também pode se perguntar: "E qual o motivo de fazer isso tudo?"
Simplesmente acho que Impa merece ser alvo de discussões, visto que se trata de um nome muito grande dentro da mitologia de Hyrule, e também por eu não perceber muitos comentários a respeito dela. Sei lá, achei que seria bacana fazer isso tudo pra ver como ela mudou com o passar dos anos, também tem isso.


Comecemos do começo, ou seja, do primeiro do jogo. Lá no Zelda do NES, Impa não aparece na aventura em si. Ela é mencionada como a "ama" de Zelda e, quando estava cercada por monstros, foi resgatada por um jovem aventureiro chamado Peter Pan Link.

Impa em sua primeira aparição, no The Legend of Zelda original

Se formos ver a arte que a representa no manual do jogo, vemos que se trata de uma senhora idosa, e que ela só encontrou Link por ser a última esperança de Zelda. A imagem que temos aqui é a de uma senhora bondosa, mas que não se mostra capaz de lutar contra monstros.


A mesma Impa é mencionada novamente em Zelda II, e ela possui as mesmas características, tanto físicas como de habilidade. A grande diferença é que, agora, ela se mostra bem mais sábia, conseguindo explicar a Link sobre as propriedades mágicas da Triforce. Infelizmente, não passa muito disso.

Apesar de sua relativa importância para os eventos de ambos os jogos, Impa jamais aparece em nenhum deles, sendo apenas mostrada nos manuais através de menções ou de arte.
Não é preciso pensar muito para saber porque isso se deu... Não só um sprite para Impa seria incrivelmente desnecessário (visto que estamos falando de uma época onde a história dos jogos ficava em segundo plano), como também a personagem não aparentava precisar de algo mais profundo. Para esse ponto, levo em conta o fato de que Impa, apesar de ser importante para iniciar os eventos de ambos os jogos, nunca fez nada para auxiliar nos seus desfechos.
Putz, existe ainda muita controvérsia quanto à cronologia desses dois jogos, já que temos, aparentemente, duas Zeldas completamente diferentes, e em um espaço de tempo tão curto.
A única coisa que podemos tirar de Impa é que ela era uma sábia serva de Zelda, nada mais, nada menos...
O grande conhecimento de Impa será algo que todos os Zeldas, a partir daqui, vão levar em consideração.

A sábia não seria mencionada dentro do cânone de Zelda por pelo menos uns dez anos, não existindo nem em A Link to the Past nem Link's Awakening. Agora que estou pensando melhor, creio que ela tenha sido substituída por Sahasrahla, um sábio que tem, praticamente, a mesma função. Ela também é completamente ignorada nas duas iterações que a franquia teve na TV. Uma mídia que eu poderei estar esquecendo aqui é a das HQ's dos anos 80/90, mas nunca tive a oportunidade de lê-las, então não as mencionarei aqui hoje.

Por mais estranho que isso seja, creio que Impa deve muito de sua personalidade a um dos infames jogos do CD-i, onde ela aparece, com uma importância bem grande, como ajudante de Zelda em Zelda: Wand of Gamelon.


Durante a introdução do jogo, vemos Impa como uma figura que, aparentemente, recebe muito respeito de Zelda, quase como uma mãe, na verdade... OK, talvez ela pareça mais uma tia amada.
Nessa encarnação, que parece seguir os moldes deixados pelos Zeldas do NES, e mesmo sem ser canônica, Impa mostra grande conhecimento em relação às Triforces, sendo capaz de "ler as mensagens" que a Triforce da Sabedoria lhe mostra. Junto a isso, ela pareceu, ao menos para mim, bem amigável e gentil em frente à Zelda, referindo-se a ela como "dear", ao invés do típico "princess".
Existe uma maior importância para ela dentro de Wand of Gamelon, mas sua principal função continua sendo o "pontapé", servindo apenas para fazer a história andar e apontar Zelda para o próximo objetivo.

Impa poderia muito bem ter caído no obscuro não fosse Ocarina of Time, onde ela foi completamente reinventada. Apesar de ainda estar na função de "ama" de Zelda, Impa foi remodelada como uma guerreira, agora parte de uma tribo chamada Sheikah. Impa, aqui, perde a característica de "pontapé", e começa a agir de forma mais direta na história, auxiliando o herói a ir ao caminho certo no começo, salvando Zelda das garras de Ganondorf e (ou assim podemos assumir) treinando-a para tornar-se em Sheik e, é claro, seu dever como "Sábia da Sombra" retorna.


Apesar de não vermos muito dela no jogo (pelo menos em relação ao Wand of Gamelon), é possível perceber que os "básicos" não mudaram: ela continua séria e sábia, embora não tanto "titia ama você", como foi apresentado antes. Além disso, a idade dela foi, aparentemente, alterada, deixando-a bem mais jovem do que as versões anteriores.
Com o risco de dar um tiro no escuro, acho que podemos ver muitos dos traços de Impa na Sheik. Digo isso porque Sheik passou anos treinando sobre a conduta de Impa, e, tendo-a como única referência, dá pra imaginar que sua seriedade, seu tom e sua disciplina são todos herdados dela, nos permitindo ter uma noção de como Impa agiria em seu lugar.
Como Ocarina of Time foi o jogo que introduziuos Sheikah para a mitologia de Zelda, a partir daqui, Impa seria, quase sempre, relacionada a esses laços... Quase sempre...

Talvez em um tipo de homenagem aos jogos originais, Impa retornou nos jogos Oracle, praticamente com a mesma importância dos jogos do NES. A grande diferença é que ela era um pouco mais ativa e simpática. Infelizmente, isso também veio ao custo de personalidade... Ela não faz muito mais do que dar dicas de onde você pode seguir.


Em ambos os Oracles, ela ajuda a história a andar e explica algumas coisas... Nada mais, infelizmente...

A próxima "versão" de Impa dentro da série Zelda, seria só em Twilight Princess, e de uma forma bem... Inesperada.
Adotando o nome "Impaz", ela seria a personagem que protegeu Ilia e ajudou o Herói do Crepúsculo dando-lhe pistas sobre o Dominion Rod. Sua altura também foi comprometida, visto que ela ficou do tamanho de sua típica avó-anime, ou seja, uma idosa bem baixinha.


Acredito que uma função extra de Impaz é para deixar o jogador especulando quanto à vila que ela habita e seus antigos moradores. Seu nome também ajuda a lembrar dos Sheikah, e dá a entender que aquela fora a vila deles.
Apesar de não parecer, ela também mostra conexão com a família real de Hyrule. Falando nisso, essa foi a primeira e única encarnação de Impa que não tem contato direto com a casa de Hyrule, em especial com a princesa Zelda.

Impa só será lembrada cinco anos depois, fazendo homenagens aos dois estilos que a personagem já teve: a guerreira ninja e a velha sábia. Skyward Sword nos apresenta os dois extremos, embora o que mais chama a atenção é a atitude grosseira e, até certo ponto, arrogante, da Impa jovem. Vale mencionar, também, que essa é a primeira vez que Impa entra em ação (no caso, protegendo Zelda de Ghirahim), não ficando restrita ao diálogo, como na maioria das vezes.


A outra versão de Impa faz jus ao estilo mais recorrente da personagem, como uma senhora sábia, mas relativamente indefesa.
Skyward Sword dá a Impa um destaqui muito merecido, com ela não só servindo de pontapé, como também auxiliando o herói diretamente e sendo de importância vital para a trama do jogo. Inclusive, perdão o spoiler, ela protagoniza uma das cenas mais tocantes da franquia bem aqui.
Não existe muito de um "amor materno", como eu citei (talvez de forma exagerada) antes, mas pode-se notar o início de um amor fraternal entre ela e Zelda. O que é mais importante: não é só a Impa que demonstra isso. Na verdade, quem começa isso tudo é a própria Zelda. Finalmente vemos os dois lados da relação.
Se me perguntarem, essa aqui foi a melhor versão da personagem até hoje, dentro da série principal, justamente por ela ser tão bem desenvolvida e da importância e peso que ela trás para a trama.

Impa retorna em A Link Between Worlds, o jogo seguinte da franquia. Apesar de, mais uma vez, ela ficar limitada à pose de velha sábia, existe algo a mais aqui... Pelo menos para mim, ela passou a ideia de que era uma poderosa guerreira, agora aposentada e cuidadora da Princesa (que está mais para Rainha). A relação entre Zelda e Impa não mostra muitos frutos aqui, mas nota-se que elas são rápidas em completar o pensamento da outra, o que poderia indicar que Impa foi, aqui, talvez uma tutora para Zelda, além do típico "ama". E, sim, Impa continua séria.


Em termos de história, Impa volta ao seu posto de Ocarina of Time: ela é uma sábia, e dá uns pontapés, mas acaba não indo muito longe disso.
Esse foi, para mim, um terrível passo para trás na personagem, já que ela não tem nada de muito interessante ou especial. É, praticamente, a mesma Impa dos Oracles, só que com um pouquinho mais de importância, nada que chegasse perto da excelente versão de Skyward Sword.

Apesar de ser um spin-off, Hyrule Warriors trouxe de volta o mito da eterna ama e serva de Zelda. Misturando os atributos de Ocarina of Time e Skyward Sword, Impa foi apresentada no jogo como uma guarda-costas de Zelda. Destemida, séria e sábia como sempre, mas agora com grande foco nas suas habilidades, que misturam elementos do Bushido e Shinobi.



A personagem não teve o mesmo desenvolvimento que sua versão para Skyward Sword, mas é tão bem explorada quanto aquela versão, com a personalidade focada e séria e, pela primeira vez, uma personagem jogável, o que nos permite observar suas habilidades em batalha.
Junto a isso, a relação de Impa e Zelda é novamente explorada, e percebe-se a tutelagem da guerreira em relação à princesa, sendo, também, sua conselheira. Zelda se mostra interessada nos conselhos de Impa e parece segui-los com atenção. Nada tão emotivo quanto Skyward Sword, mas, definitivamente, um passo à frente depois de A Link Between Worlds.

E, até hoje, essas foram as Impa's que já passaram por Zelda. É inacreditável como a personagem sofreu alterações, passando de uma simples assistente a uma poderosa guerreira. De todas as versões, a de Skyward Sword se sobressai, por ser a primeira que, de fato, tem a personagem bem explorada e explicada.

Agora, podemos responder a pergunta: É saudável fazer tantas mudanças a uma personagem?
Feita toda essa recapitulação, eu digo que depende do que estamos falando... Todas essas Impa, apesar de dividir o mesmo nome e, provavelmente, a mesma linhagem, são todas personagens distintas, da mesma forma que há uma Zelda e um Link diferente para cada jogo.
Só que, diferente dos três grandes, Impa pode ser maleada de acordo com a personalidade de cada jogo, e é justamente isso que acontece.
Eu prefiro a Impa ninja/samurai, não posso negar isso, mas as mudanças não são ruins se os básicos da personagem permanecerem, que é o caso aqui. Impa nunca deixou de fazer parte importante da história da princesa Zelda, mesmo que a princesa já tenha se mostrado bem sem ela, e nem deixou de ser sábia e poderosa à sua maneira.
Na verdade, Impa é uma personagem que mostra bem como a série mudou ao longo dos anos, assim como cada encarnação sua vai de acordo com o tipo de jogo. Sendo ela ama ou guarda-costas, é uma personagem que merece continuar mostrando as caras na série e, com certeza, também merece um papel maior.

Agradeço aos sites Zelda Wiki e Zelda Wikia pelas imagens de Wand of Gamelon, Ocarina of Time, Twilight Princess e a do cabeçalho (Hyrule Warriors).

Para ler mais:
- Biografia: Impa (The Legend of Zelda)
- O que é coragem?
- Moblins

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