Retrô No.1 : The Legend of Zelda - The Animated Series

Então, imagine que você está sentado à frente de sua TV, numa manhã de sábado. São 9 horas da manhã e você está mudando os canais, irritado por não achar nada melhor do que aqueles programas e desenhos de segunda que você conhece, mas não está a fim de assistir. Mudando os canais, você acaba por encontrar a tela abaixo:

Eu te pergunto: qual seria a sua reação? Pularia do sofá, assustado? Mudaria de canal sem nem perceber? Puxaria seu copo de nescau e ficaria assistindo?
Isso pode ser novidade para muitos de vocês, mas a nossa tão querida série Zelda já foi, sim, um programa de TV. Como foi isso? Quando foi isso? Você descobrirá agora...

Final dos anos 80, a Nintendo estava no auge de sua popularidade. O NES era um sucesso de vendas (sendo o videogame de mesa mais vendido da história, só tendo sido superado mais tarde pelo Nintendo Wii), e revistas como a Nintendo Power apenas aumentavam sua publicidade.
Todos amavam a Nintendo, todos adoravam suas franquias. O amor era tão grande que, apesar de terem os videogames, os fãs queriam mais e mais, querendo ver seus personagens nas colchas de cama, nos travesseiros, nas xícaras, na TV, no cinema, enfim... Em tudo o que é canto!

Então, o pessoal da DiC Entertainment recebeu a ordem de fazer programas de TV a respeito. Para quem não sabe, a DiC foi responsável por vários desenhos animados na TV, dentre eles um programa do famoso Mario Bros. e até mesmo de seu grande rival da época: Sonic the Hedgehog (que recebeu várias adaptações para a TV, não só pela DiC). Obviamente, The Legend of Zelda também obteve um programa para si.
O show de TV teve 13 episódios, mas ele é lembrado até hoje (e, em alguns casos, adorado) por muitos fãs de Zelda.

O programa em si não tinha nada de tão especial. Era seu típico programa de aventura do sábado pela manhã. Para vocês terem uma ideia, ele lembra um pouco o infame programa "A Caverna do Dragão" em questões de animação e um pouco da fantasia. O que o tornava especial (e, curiosamente interessante) eram os elementos da franquia presentes.

Aparentemente o enredo do programa tinha como base os dois primeiros jogos da série na época (leia-se The Legend of Zelda e Adventure of Link, ambos para o NES), e, quando digo base, eu digo que o visual dos personagens (especialmente o de Link) e o estilo da história em geral foram construídos pensando nisso.
A história roda sobre os três personagens lutarem pelas duas Triforces: a do Poder (protegida por Ganon) e a da Sabedoria (protegida por Link e Zelda). Apesar de Ganon sempre procurar investir para conseguir a Triforce, ele sempre fracassa. Já Link e Zelda nem ao menos tentam pegar a Triforce de Ganon. Vai saber porque.
No entanto, um problema que o pessoal da DiC encontrou (ou deve ter encontrado) na hora de fazer os roteiros foi justamente a falta de conteúdo com o que trabalhar. Apesar de o reino de Hyrule ter sido extremamente rico na época, os personagens não possuíam tanto desenvolvimento. No caso do primeiro jogo, nenhuma palavra é falada pelos personagens importantes (Link, Zelda e Ganon); e no segundo muito menos. Era difícil saber qual a forma que os personagens de pensar e falar, então os desenvolvedores deram um jeito. As personalidades dos personagens foram feitas livremente.

Ganon em toda a sua glória

Zelda também não é nenhuma donzela em perigo, como os primeiros jogos fazem ela parecer. Talvez por acharem que o nome "The Legend of Zelda" tinha que ter algum outro sentido, eles decidiram dar à princesa uns movimentos e habilidades excepcionais, além de uma personalidade forte (MUITO forte).Ganon é o seu típico vilão de um show de sábado pela manhã. Malvado, mas estranhamente cômico e um tanto rídiculo, em certos pontos.
Agora, eu acho que Link foi o personagem que mais deu trabalho. O que era conhecido de Link...? Bom, nada praticamente. O pessoal da DiC deve ter pensado que um rapaz que luta contra o mau assim, sem mais nem menos, e sem medo de ser feliz deveria ser alguém muito cheio de si. Bom... E isso resume como Link é no seriado. Nada mais do que um jovem muito, mas MUITO exibido, às vezes até irritante. Curiosamente, ele tem uma queda óbvia por Zelda e está sempre tentando roubar-lhe um beijo.

Agora, talvez pelo efeito de poucos personagens para se trabalhar, o pessoal da DiC decidiu criar novos personagens para a série, a fim de não deixá-la só com três principais. No caso, os personagens adicionados são, de forma bem resumida: a fadinha Sprite (antecessora da Navi?), e o rei de Hyrule (cujo nome, infelizmente me escapou a memória no momento).
Sprite é uma boa personagem, pode-se dizer assim. Ela tem uma quedinha por Link, mas o sentimento obviamente não é correspondido. Ela também é bem corajosa. Em uma cena, ela tenta proteger a Triforce da Sabedoria de Ganon, mesmo fracassando.
Já o rei de Hyrule... Ele só não é mais imbecil do que o Pai do Timmy de "Padrinhos Mágicos" porque a censura do tempo não permitia. PENSE NUM ANIMAL IMBECIL! Apesar de parecer ter um coração inocente (ao ponto de dar dicas a Link sobre como se aproximar de Zelda), ele é a prova de porque Hyrule é tão invadida por forças do mau.

Como eu havia dito antes, o seriado ainda é conhecido por fãs da série. Até mesmo as pessoas que nunca assistiram nem ouviram falar o conhecem de certa forma. E isso tudo ocorre por causa de uma simples frase:
"EXCUUUUUUUUUUUUUUUUSE ME, PRINCESS!"
O infame bordão de Link, utilizado toda vez que ele deseja cortar ou rebater a palavra de Zelda, é até mais famoso do que o show em si.
O que nos leva ao roteiro do seriado. Como é de se esperar, o desenho tinha um roteiro bem leve, com vários tons cômicos, para agradar, principalmente, a crianças. Além disso, todas as cenas de ação (como as lutas, por exemplo), apesar de serem bem interessantes, são terminadas bem rapidamente. Isso não quer dizer que a série seja só diálogo. A série é sempre balanceada, não tem muitas lutas, mas não tem muita conversa (inútil ao menos). Agora, se tem uma coisa que o seriado embarcou sem medo algum foi a comédia. O bom humor é constante, podendo fazer o telespectador rir ou pelo menos soltar um sorriso. Exemplos são os movimentos de boxe ensinados por Ganon, a estupidez do rei de Hyrule, ou até mesmo algumas das linhas.

"Link cai de uma altura muito grande em cima de um carrinho-de-mão cheio de feno. Zelda corre para ajudá-lo:
- Link! Você está bem?!
- Não vou aguentar muito tempo - diz Link - Está tudo ficando escuro... ME BEIJE!
- Ora, você está ótimo - diz Zelda, empurrando-o."

Além disso, ela embarca, de forma também balanceada, mas menos moderada, os elementos da série Zelda. Acredite, você vai ouvir muito os personagens falando "MOBLINS!", ou "A ZORA!" e por aí vai.

Curiosamente não se tratam só de referências. O seriado também trouxe algumas "explicações" para o mundo da série de Zelda. No caso: como Link consegue levar tantos itens consigo sem nem ao menos sentir o seu peso, ou porque os inimigos de Zelda, ao serem derrotados, não deixam um cadáver. É, eu sei que você sempre se perguntou...
O legal é que alguns dos efeitos sonoros foram retirados diretamente do primeiro jogo. Não se assuste ao ouvir os sons do jogo de 8-bits caso você assista o programa.
Já as músicas, eram feitas tendo como base as duas músicas do primeiro jogo.

Em resumo, dá pra dizer que o seriado segue a linha "Paz - Descoberta de algo/Luta inesperada - Luta inesperada/Descoberta de algo - Climax - Desfecho - Paz", com, talvez, algumas exceções.

Agora, sejamos sinceros. A série era extremamente esquisita. As histórias, todas tinham algo de exagerado ou simplesmente estranho. Inclusive, essa é uma das acusações feitas por fãs da série Zelda ao tentarem criticar o show.
Para muitos também, a série ARRUINOU o personagem de Link. Ninguém esperava, ou queria, que Link fosse um personagem arrogante do jeito que ele era...
O seriado ainda é pesadamente criticado por muitos fãs de Zelda, que nem ao menos o consideram como algo relacionado à franquia.

Zelda e Link como eles aparecem na série

No entanto, existem fãs que gostavam ou gostam do programa, e eu ouso dizer que estou com eles. Apesar de todos os "problemas", o programa era bem interessante e dava para entreter. Tente procurar por ele no Youtube quando estiver entediado.

Bom, vai um desafio: se você conseguir assistir o vídeo abaixo inteiro, você vai adorar o programa.



Aturou? Então assista o programa, você vai adorar.

Pra fechar, eu posso dizer que a série era tão ruim, mas tão ruim, que era boa. E eu estou falando sério.
Claro, não é certeza se você vai gostar ou não, até porque, só porque você gosta de Zelda não quer dizer que vai gostar disso. Pode achar uma ofensa, pode achar um elogio, pode não achar nada... Mas é aquela. Quem sabe você gosta... Vai saber.